6ª Reunião Portugal Brasil de Hérnia Parede Abdominal
Cirurgiões debatem Catástrofes Abdominais
A Associação Portuguesa de Cirurgia Ambulatória (APCA), em conjunto com a Sociedade Portuguesa de Cirurgia, Colégio Brasileiro de Cirurgiões e com a Sociedade Brasileira de Hérnia e Parede Abdominal, realizou, no dia 21 de setembro, a 6.ª Reunião Portugal Brasil de Hérnia da Parede Abdominal: Catástrofes Abdominais.
O evento, que juntou 170 especialistas de ambos os países, num debate contínuo sobre Catástrofes Abdominais, decorreu pelas 21h30 de Portugal, 17h30 do Brasil.
O cirurgião brasileiro Rodrigo Galhego, membro da organização do evento, fala da importância da realização deste tipo de reuniões, que promovem o contacto entre especialistas de ambos os países e a troca de conhecimento.
“Devemos estreitar laços entre cirurgiões, em especial de língua comum. Somos países muito diferentes, com sistemas de saúde diferentes e realidades sociais diferentes. Temos muito a acrescentar em experiência uns aos outros. Eu, particularmente, aprendo mais a cada evento desses. Os portugueses são cirurgiões fantásticos, além da extrema simpatia”, afirma Rodrigo Galhego.
Referindo que o tema das catástrofes é um dos “assuntos mais complexos” em parede abdominal, Rodrigo Galhego observa que a reunião correspondeu às suas expectativas, tendo-se refletido numa noite de “muito ganho em aprendizagem”.
A cirurgiã portuguesa Eva Barbosa é da mesma opinião, no que respeita à realização destas reuniões: “A partilha de experiência clínica é fundamental para o nosso crescimento como cirurgiões. E poder efetuar essa partilha através da mesma língua ajuda indubitavelmente à comunicação. A realidade entre os nossos países é seguramente diferente e existem muitos pormenores que não estão nos livros. Poder partilhar os pequenos truques, a experiência com novas técnicas e materiais ajuda-nos a evoluir de forma mais rápida e segura. Além disso, é sempre bom estreitar laços científicos (e não só) entre países, com uma língua e um passado comum, como é o caso de Portugal e do Brasil.”
Quando questionada acerca dos desafios que o tema catástrofes abdominais coloca aos cirurgiões, Eva Barbosa responde que, nos últimos anos, com os conceitos de "controlo de danos" e de "síndrome de compartimento abdominal", muitas vidas em estado limite, têm sido salvas. “Com estes conceitos existiu uma clara mudança na abordagem das catástrofes abdominais - inicialmente na área do trauma, mas posteriormente estendendo-se à sepsis abdominal -, permitindo uma sobrevida até aí inexistente”, refere.
E continua: “São pacientes extremamente desafiantes, que envolvem multidisciplinariedade, trabalho conjunto, decisões rápidas e claras, de forma a se conseguir atingir um bom resultado.”
Segundo refere, o timing nas catástrofes abdominais é fundamental, sendo talvez o ponto mais fulcral, como sejam o tempo da decisão, da atuação, da programação, entre outros.
Além disso, continua Eva Barbosa, são doentes que monopolizam vários profissionais, que necessitam de partilhar entre si os mesmos conceitos, sendo este outro dos desafios - o encontro de uma linguagem comum entre as várias especialidades intervenientes.
Em relação à sua intervenção durante esta 6.ª Reunião Portugal Brasil de Hérnia da Parede Abdominal, subordinada ao tema “Indicações de Laparostomia e Como Fazer”, a cirurgiã teve como objetivo explicar quais os doentes que beneficiam de uma laparostomia (ou seja, ficar com o abdómen temporariamente aberto).
“A laparostomia tem complicações, pelo que o seu risco/benefício tem de ser ponderado criteriosamente, baseando-nos numa Medicina de evidência”, refere a especialista que, durante a sua apresentação abordou as guidelines internacionais de indicações para a laparostomia.
E conclui: “Explicar como fazer é fundamental para maximizar os benefícios, minimizando as complicações, como sejam as fístulas enteroatmosféricas ou a impossibilidade de encerramento abdominal primário, com a criação de uma hérnia ventral planeada. Com uma indicação adequada e uma realização cuidada da laparostomia, aumentamos grandemente a probabilidade de sobrevida do doente com uma catástrofe abdominal.”
Além da intervenção de Eva Barbosa, a reunião contou ainda com apresentações subordinadas às seguintes temáticas: Infeção de Ferida Operatória e de Telas, por Maurice Franciss, do Brasil; Manejo de Fístulas e do Abdómen Aberto, por Marcio Cavaliere, do Brasil; Síndrome Compartimental, por Fernando Ferreira, de Portugal; e ainda com a discussão de um caso clínico, relatado por Murilo Favaro, do Brasil. A moderação foi da responsabilidade dos cirurgiões, brasileiro, Diogo Paim e, português, Antonio Rivero.